A proxima demissão em massa

A próxima demissão em massa será do modelo educacional

A inteligência artificial não está apenas transformando o mercado de trabalho — está pressionando o sistema educacional contra a parede. Segundo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), 1 em cada 4 empregos no mundo será impactado diretamente pela IA generativa. Isso não é mais um alerta futurista. É agora.

Mas enquanto a tecnologia avança em ritmo exponencial, a escola caminha em marcha lenta — ainda presa a métodos do século XIX, com provas do século XX, formando alunos para um mundo que não existe mais.

O que está acontecendo?

O relatório da OIT, publicado em maio de 2025, mostra que:

  • 25% dos empregos formais estão sob alto risco de automação parcial;

  • Áreas administrativas, de atendimento, programação e criação de conteúdo estão entre as mais afetadas;

  • Funções cognitivas repetitivas serão as primeiras a desaparecer — justamente aquelas que a escola mais estimula: copiar, reproduzir, seguir instruções.

A IA está fazendo mais do que ameaçar profissões: ela está redefinindo o que significa ser competente no século XXI.

E a escola? Ainda exige que o jovem "acerte a alternativa C"

Estamos ensinando os jovens a competir com algoritmos — quando deveríamos estar ensinando a amplificar suas capacidades com eles.

O ENEM continua baseado em lógica linear, repetição de padrões e pouco espaço para criação, experimentação ou pensamento complexo. Um exame que deveria orientar o futuro virou um espelho do passado.

Estamos formando estudantes para empregos que já estão desaparecendo.

Como educador, me pergunto: quantos dos meus alunos estão sendo preparados para profissões que sequer existirão quando se formarem?

A verdadeira crise não é de empregos — é de visão

A IA não necessariamente destrói empregos. Ela reconfigura competências. Tarefas repetitivas serão delegadas às máquinas. E os humanos? Precisarão se diferenciar em:

  • Criatividade e originalidade;

  • Pensamento crítico e adaptativo;

  • Inteligência emocional e relacional;

  • Capacidade de formular boas perguntas;

  • Ética, julgamento e intuição.

Todas essas competências continuam fora do centro do nosso currículo escolar.

Frases para não esquecer

“Não é o emprego que está morrendo. É a forma de ensinar que está falindo.”

“Se a IA vai substituir 1 em cada 4 empregos, precisamos mudar 4 em cada 4 escolas.”

“O futuro exigirá habilidades humanas que a escola insiste em ignorar.”

Para onde ir?

Se queremos preparar jovens para um futuro não-linear, incerto e tecnologicamente mediado, precisamos agir agora. Aqui estão quatro pontos de partida:

  1. Transformar a sala de aula em um laboratório de investigação — onde errar é parte do processo, e não punição;

  2. Ensinar os jovens a usar IA de forma ética, criativa e estratégica;

  3. Redefinir o papel do professor: de transmissor para curador, mentor e provocador de pensamento;

  4. Incluir no currículo o que o mundo real já exige: design de problemas, projetos interdisciplinares, pensamento computacional e colaboração.


A IA não está vindo — ela já chegou. O mercado já mudou. Os empregos já estão sendo redirecionados. Só a escola insiste em manter o roteiro antigo.

Se não agirmos agora, a próxima demissão em massa não será apenas de profissionais. Será da própria relevância do nosso sistema educacional.

Marcos Breder, Ph.D.
Educador, pesquisador e provocador de futuros possíveis. Há mais de 20 anos trabalhando com jovens no ensino médio, graduação e pós-graduação — com foco em design, comportamento e inovação educacional para a era da inteligência artificial.