Habilidades do futuro


O futuro não pertence a quem responde, mas a quem pergunta
Vivemos um momento histórico. Pela primeira vez, o ser humano não é mais o único a gerar texto, imagem, música e código. As inteligências artificiais estão entre nós, e com elas vem uma pergunta inevitável: como será o sucesso profissional — e pessoal — neste novo mundo?
Segundo Sam Altman, CEO da OpenAI, a resposta não está em acumular conhecimento, mas sim em desenvolver a capacidade de fazer boas perguntas. Na era da IA, quem souber se relacionar com as máquinas de forma criativa e estratégica terá uma vantagem competitiva incomparável.
Mas estamos educando nossos jovens para isso?
O poder está na pergunta
Altman afirma que “raciocinar criativamente e encontrar soluções originais” é o que ainda distingue os humanos das máquinas. E isso exige curiosidade, pensamento crítico, adaptabilidade e agilidade mental — competências cada vez mais raras em ambientes escolares engessados por avaliações padronizadas e conteúdos fragmentados.
A engenharia de prompts — a arte de dialogar com IA por meio de comandos bem formulados — já é considerada uma das habilidades do século XXI, com profissionais sendo pagos mais de US$ 100 mil/ano para redigir perguntas eficazes.
A questão é: quem está ensinando nossos jovens a perguntar bem?
A escola ainda treina para o passado
Enquanto isso, no Brasil, seguimos premiando quem responde certo, quem decora fórmulas, quem repete estruturas. O ENEM, por exemplo, continua estruturado com base em raciocínios lineares, perguntas fechadas e repertórios previsíveis. Estamos educando para responder — mas o sucesso na era da IA está em saber perguntar, conectar e interpretar.
A escola ensina a acertar; o mundo exige que a gente arrisque.
Estamos formando coletores de respostas ou criadores de hipóteses?
IA como aliada, não como ameaça
A inteligência artificial não veio substituir ninguém. Mas sim, ela vai substituir quem não souber dialogar com ela.
O futuro será moldado por pessoas que sabem traduzir problemas complexos em boas perguntas, que usam a IA como ferramenta de amplificação, e não como atalho de pensamento. Isso exige uma mudança profunda na educação — de conteúdo para competência, de resposta para criação.
Caminhos possíveis (e urgentes)
Ensinar a perguntar: desenvolver oficinas e projetos baseados em problemas reais, que valorizem o pensamento divergente e a criação de perguntas abertas.
Inserir IA na rotina pedagógica: não apenas como ferramenta, mas como objeto de estudo ético, técnico e cultural.
Valorizar o erro, a dúvida e o inacabado: espaços de aprendizagem devem ser laboratórios de hipóteses, não fábricas de certezas.
Formar professores-curadores e não apenas transmissores: que saibam provocar, guiar, explorar e acolher.
O mundo mudou — e a educação precisa acompanhar
“Na era da IA, quem dominar a arte de perguntar terá o mapa do futuro nas mãos.”
Estamos diante de uma oportunidade rara de reinventar o que significa aprender. Mas para isso, precisamos coragem. Coragem para abandonar velhos modelos, coragem para perguntar o que nunca foi perguntado.
Porque, como educador, aprendi que quem forma mentes que apenas respondem, prepara seguidores.
Mas quem ensina a perguntar, forma líderes.
Marcos Breder, Ph.D
Professor e pesquisador em design, comportamento e educação na era da inteligência artificial. +20 anos de experiência docente com jovens no ensino médio, superior e pós-graduação.